6. Missão do Espírito
A plenitude do Espírito Santo não é um fim em si mesma, mas o início de uma jornada de entrega, ousadia e testemunho. Depois de ensinar, curar, libertar e morrer por nós, Jesus ressuscitou e, antes de subir ao céu, fez uma promessa que definiria o destino da Igreja: “Mas vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1:8). Esse versículo resume o plano de expansão do Reino de Deus: um movimento que nasce do Espírito, alcança o coração do discípulo e se espalha até os lugares mais distantes da Terra.
Desde o Pentecostes, a missão da Igreja tem sido movida por essa promessa. O Espírito Santo não foi derramado apenas para provocar experiências individuais, mas para gerar uma comunidade viva, cheia de poder e compaixão, pronta para impactar o mundo. Em Atos 2, vemos os discípulos cheios do Espírito, falando em outras línguas, pregando com ousadia e testemunhando com milagres. Pedro, que antes havia negado Jesus, agora se levanta e prega com coragem diante de milhares de pessoas. O medo é substituído por autoridade. A timidez dá lugar à ousadia. O Espírito transforma seguidores inseguros em testemunhas corajosas do Reino.
O mapa missionário de Atos 1:8 é também um retrato da nossa própria jornada: começa em Jerusalém — nosso contexto mais próximo, como família e amigos; se expande para a Judéia — nossa cidade, comunidade e vizinhança; alcança a Samaria — lugares e pessoas que evitamos ou consideramos diferentes; e por fim, vai até os confins da Terra — povos, culturas e línguas que ainda não conhecem o Evangelho. Em outras palavras, a missão do Espírito é local, regional, cultural e global. O chamado não é apenas para alguns, mas para todos os que foram cheios do Espírito.
Ao longo do livro de Atos, vemos que o Espírito não apenas capacita, mas também dirige a missão. Ele envia Filipe a Samaria e depois a um eunuco etíope, conduz Pedro à casa de Cornélio — rompendo barreiras étnicas e culturais — e separa Paulo e Barnabé para o trabalho missionário. “Separem para mim Barnabé e Saulo para a obra a que os chamei” (Atos 13:2), diz o Espírito. A Igreja não decide sozinha. Ela ouve, obedece e segue a direção daquele que conduz todas as coisas. Missão verdadeira não é movida por impulsos humanos, mas por obediência à voz do Espírito.
Isso nos leva a um ponto essencial: a missão é para todos. Em Atos, não há separação entre “missionários profissionais” e cristãos comuns. Todos são testemunhas. Uns pregam, outros servem, outros financiam, outros discipulam — mas todos participam. O Espírito distribui dons, molda o caráter e liberta com um único propósito: formar um povo preparado para ser sal da terra e luz do mundo. Uma Igreja cheia do Espírito não se acomoda, ela se move. O mover iniciado em Atos 2 percorre todas as páginas do livro de Atos e segue vivo nas nossas vidas hoje.
O Espírito continua conduzindo a missão de Deus no mundo. A geração atual está cercada por novos “confins da Terra”: pessoas nos grandes centros urbanos que nunca ouviram o Evangelho de maneira clara, populações indígenas e ribeirinhas esquecidas, refugiados em crise, crianças vulneráveis, surdos, pessoas em situação de rua, além das novas “tribos digitais” que habitam as redes sociais e os espaços virtuais. A Missão hoje, exige sensibilidade ao Espírito e disposição para ir além da zona de conforto.
Ser testemunha, portanto, não é apenas falar de Jesus, mas viver como Jesus: com coragem, compaixão, integridade e amor. A palavra “testemunha”, no grego, é “martys” — a mesma raiz de “mártir”. O chamado do Espírito é radical: testemunhar com a vida, com as palavras, com as decisões e, se necessário, com a própria morte, como fez Estêvão. Mas esse chamado é também cheio de poder: o Espírito que nos envia é o mesmo que nos capacita, consola e fortalece em cada passo da missão.
A verdadeira plenitude do Espírito nos tira do centro e nos empurra para a missão. Com base nas aulas anteriores, compreendemos que a sabedoria, o poder, e o caráter não são fins em si mesmos, mas encontram seu verdadeiro propósito na entrega total à missão de Deus. Assim como Jesus foi enviado pelo Pai, agora somos enviados pelo Filho no poder do Espírito Santo. O mesmo Espírito que moveu Pedro, Filipe, Paulo e Barnabé também deseja mover a mim e a você. A história ainda está sendo escrita. Somos a geração de Atos 29 — o capítulo que continua com os nossos pés, mãos, lágrimas e palavras.
6.1 Níveis de Aperfeiçoamento
Com base no que vimos nas aulas anteriores, é possível compreender que o aperfeiçoamento espiritual ocorre em diferentes níveis, e cada um deles exige uma postura específica diante de Deus: pedir, buscar e bater. Essas três atitudes foram ensinadas por Jesus em Lucas 11:9–13, quando Ele disse: “Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes será aberta.” Ao final desse ensino, Jesus revela o propósito por trás dessas ações: “Quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem!”. Ou seja, pedir, buscar e bater são movimentos espirituais que nos conduzem a uma vida mais cheia do Espírito, mais parecida com Cristo e mais frutífera no Reino.
Primeiro Nível: Pedir (Sabedoria)
O primeiro nível de aperfeiçoamento está relacionado em pedir sabedoria espiritual. Esse é o ponto de partida, pois sem sabedoria, não há clareza de propósito, nem discernimento nas decisões, nem compreensão da vontade de Deus. Tiago escreve: “Se algum de vocês precisar de sabedoria, peça a nosso Deus generoso, e receberá” (Tiago 1:5). É necessário começar pedindo. Deus se alegra com esse tipo de pedido, assim como se alegrou com Salomão, que preferiu sabedoria ao invés de riquezas ou prestígio (1 Reis 3:10–12). Sabedoria, portanto, é um presente do céu que nos ilumina por dentro, molda nossos pensamentos e nos prepara para caminhar com maturidade espiritual.
Segundo Nível: Buscar (Poder)
O segundo nível envolve buscar com intensidade os dons espirituais. Se a sabedoria deve ser pedida, os dons devem ser buscados com intencionalidade. Paulo incentiva: “Desejem intensamente os dons mais úteis” (1 Coríntios 12:31) e “Desejem também os dons espirituais, especialmente a capacidade de profetizar” (1 Coríntios 14:1). Buscar é mais do que pedir — é movimentar-se em direção a algo, é sair do lugar, é agir com desejo santo. O Espírito concede dons a cada um como quer, mas a Bíblia nos ensina a desejá-los e buscá-los com zelo, pois eles são ferramentas para servir, edificar e cumprir a missão da Igreja.
Terceiro Nível: Bater (Caráter)
O terceiro nível, e também o mais profundo e exigente, é o que trata do caráter cristão. Aqui, não basta pedir ou buscar. É necessário bater. E bater envolve perseverança, insistência, persistência diária diante de Deus. O caráter é moldado no fogo da disciplina, da rendição e da santificação. Paulo compara esse processo ao treinamento de um atleta: “Disciplino meu corpo como um atleta, treinando-o para fazer o que deve, de modo que, depois de ter pregado a outros, eu mesmo não seja desqualificado” (1 Coríntios 9:26–27). Em Gálatas 5, ele descreve o confronto constante entre a carne e o Espírito. O fruto do Espírito não é desenvolvido de forma automática — ele é resultado de um processo interior profundo, que exige renúncia, escuta, obediência e comunhão com Deus.
Esses três níveis de aperfeiçoamento — pedir (sabedoria), buscar (poder) e bater (caráter) — refletem três dimensões da plenitude do Espírito em nossas vidas. Eles correspondem também às três direções mencionadas em 2 Timóteo 1:7: poder (dons), amor (fruto) e moderação (sabedoria e domínio próprio). No entanto, é importante entender que, embora todos os três sejam fundamentais, o nível do caráter é o mais importante e o mais difícil. É nele que ocorrem as transformações mais duradouras. A sabedoria impressiona, os dons edificam, mas é o caráter que glorifica a Deus. É no caráter que Cristo é formado em nós. Por isso, alcançar a estatura espiritual de Cristo, como ensinado em Efésios 4:13, exige essas três atitudes: pedir sabedoria, buscar os dons e bater até ser transformado.