4. Vida Espiritual: Caráter

Nas aulas anteriores, falamos sobre a sabedoria e os dons espirituais. No entanto, para que um cristão seja realmente completo e plenamente cheio do Espírito, é essencial que também possua um caráter aprovado e irrepreensível.

No livro de Atos, o evangelista Lucas nos apresenta Estêvão como um exemplo notável de alguém verdadeiramente cheio do Espírito Santo — pois manifestava de forma equilibrada a natureza tríplice do Espírito: sabedoria, dons e caráter.

Veja algumas evidências nas Escrituras:

Estêvão foi o primeiro mártir da Igreja. Sua morte não foi em vão — tornou-se uma semente que frutificou abundantemente. Como disse Jesus:

“Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará só. Mas se morrer, dará muito fruto.” (João 12:24)

De fato, a semente do martírio de Estêvão germinou no coração de um jovem chamado Saulo:

“Então o arrastaram para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo.” (Atos 7:58)

Naquele momento, Saulo ainda era um perseguidor da Igreja. Mas, posteriormente, após um encontro com Cristo, tornaria-se Paulo, um dos maiores missionários e escritores do Novo Testamento.

Esse relato poderoso nos mostra que quando estamos cheios do Espírito, até mesmo nossa morte pode se tornar fértil e frutífera

A vida de Estêvão nos ensina que a verdadeira plenitude do Espírito Santo não se revela apenas por meio de palavras sábias ou manifestações sobrenaturais, mas também — e principalmente — por meio de um caráter firme, íntegro e fiel até o fim. Em Estêvão vemos a sabedoria que convence, os dons que edificam e o caráter que glorifica a Deus. Que ele seja para nós um exemplo de alguém que, cheio do Espírito, viveu, serviu e até morreu frutificando para o Reino.


4.1 Maturidade Espiritual

A vida de Estêvão é um retrato vívido do que significa ser um homem verdadeiramente espiritual. Estêvão viveu em plena sintonia com o Espírito de Deus, demonstrando sabedoria, poder e um caráter irrepreensível — mesmo diante da perseguição e da morte.

A Bíblia nos apresenta três categorias distintas de pessoas em relação à sua condição espiritual: o homem natural, o homem carnal e o homem espiritual (1 Coríntios 2:14–3:3).

O homem natural (do grego psuchikos, que significa “governado pela alma”, ou seja, pela mente natural e pelos impulsos da psique) é aquele que ainda não experimentou o novo nascimento. Vive segundo os valores deste mundo, guiado pela razão humana, pelos sentidos e pelos desejos terrenos. As coisas do Espírito lhe parecem loucura, pois ele é incapaz de discerni-las espiritualmente. Esse homem representa o “velho homem” descrito em Efésios 4:22, que “se corrompe por desejos enganosos”. Dominado pelo pecado e herdeiro da natureza adâmica, ele permanece espiritualmente morto, como afirma Paulo: “Estando vós mortos em vossos delitos e pecados” (Efésios 2:1).

O homem carnal (do grego sarkikos, que significa “governado pela carne”), por sua vez, é aquele que, embora já tenha se encontrado com Cristo e recebido o Espírito, ainda vive sob o domínio de sua carne. Ele foi regenerado, mas ainda não rompeu completamente com os padrões do velho homem. Paulo repreende os coríntios por essa imaturidade: “Ainda sois carnais... pois, havendo entre vós inveja, contendas e divisões, não estais andando segundo os homens?” (1 Coríntios 3:3). Esse tipo de pessoa é instável, emocionalmente volúvel e frequentemente guiada por vaidades, ciúmes e ambições pessoais.

Por fim, o homem espiritual (do grego pneumatikos, que significa “governado pelo Espírito”) é aquele que nasceu de novo e se submete diariamente à direção do Espírito Santo. Ele discerne espiritualmente, vive com sabedoria, tem propósito e reflete o caráter de Cristo em sua conduta. É o que Paulo chama de “novo homem”, criado segundo Deus em justiça e santidade (Efésios 4:24; Colossenses 3:10). Estêvão é um exemplo notável desse homem espiritual. Ele não apenas conhecia as Escrituras — ele vivia em íntima comunhão com Deus, deixando que o Espírito governasse seus pensamentos, palavras e ações.

Mesmo diante da morte, Estêvão não se deixou dominar pelo medo, ódio ou desespero. Cheio do Espírito, respondeu com perdão e compaixão — assim como Jesus na cruz. Enquanto era apedrejado, ele orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:60). Essa é a marca do homem espiritual: alguém que, mesmo em meio à dor, manifesta o fruto do Espírito — amor, paz, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22-23).


4.2 O Fruto do Espírito

Salomão foi o homem mais sábio de sua geração. Recebeu de Deus um coração cheio de entendimento, escreveu provérbios, julgou com justiça e edificou o Templo em Jerusalém. No entanto, apesar de toda sua sabedoria, Salomão falhou no essencial: não preservou um coração íntegro e fiel diante de Deus. Sua vida foi marcada por alianças com povos pagãos, idolatria e um fim espiritual triste. A sabedoria, isoladamente, não garantiu seu caráter nem sua fidelidade.

Os nossos hábitos revelam quem habita e governa o nosso coração. Em outras palavras, o que fazemos continuamente expressa quem está no controle da nossa vida — se é a carne ou o Espírito. Salomão, embora tenha recebido de Deus uma sabedoria extraordinária, permitiu que seu coração fosse dividido. Suas escolhas revelaram um homem que, apesar de conhecer a verdade, não viveu de forma coerente com ela. Faltou-lhe caráter, especificamente a fidelidade. Já Estêvão, mesmo sem ostentar o renome de um rei ou escrever livros inspirados, foi reconhecido como um homem cheio do Espírito Santo em, sabedoria, poder e caráter.

O apóstolo Paulo nos ensina, em Gálatas 5, que um homem verdadeiramente espiritual não é apenas aquele que conhece ou opera dons, mas aquele que expressa, por seu modo de viver, o fruto do Espírito. É interessante notar que Paulo usa a palavra "fruto" no singular, indicando que trata-se de uma expressão única, composta por diversas qualidades que atuam de forma conjunta. Ele escreve:

“Mas o Espírito produz este fruto: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Não há lei contra essas coisas.” (Gálatas 5:22)

O fruto do Espírito não é uma seleção de virtudes entre as quais escolhemos as que mais combinam com nosso temperamento. É uma evidência completa da habitação do Espírito em nós. Quando Ele governa, todas essas características passam a ser desenvolvidas em nosso caráter.

Uma imagem visual que nos ajuda a entender isso é a da mexerica, composta por vários gomos, mas pertencente a um único fruto. Assim também é o fruto do Espírito — uma só essência, expressa em múltiplas virtudes.