Portanto, o sacerdócio levítico era apenas uma sombra, uma preparação, apontando para a realidade plena que se manifestou em Cristo. A obra de Jesus, como Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, é perfeita, eterna e suficiente. Por meio d'Ele, agora temos livre acesso ao trono da graça (Hebreus 4:16), não mais dependendo de sacrifícios ou intermediários humanos, mas sendo reconciliados diretamente com Deus.
Este ensino nos revela que tudo no Antigo Testamento, inclusive o sacerdócio, já antecipava a grande redenção que seria plenamente cumprida em Jesus. Ele é o Sumo Sacerdote perfeito, que une em si mesmo a realeza e o sacerdócio, como Melquisedeque, e que reina eternamente como nosso mediador e intercessor diante do Pai.
5.4 Sacerdócio Universal
No Antigo Testamento, o sacerdócio era restrito a uma linhagem específica — os filhos de Arão, dentro da tribo de Levi — e apenas eles tinham o privilégio e a responsabilidade de ministrar diante de Deus, oferecer sacrifícios e interceder pelo povo. Todavia, com a vinda de Cristo e o estabelecimento da Nova Aliança, ocorre uma mudança radical e gloriosa na história da relação entre Deus e a humanidade. O véu do templo foi rasgado no momento da morte de Jesus (Mateus 27:50-51), declarando que, por meio de seu sangue, o acesso à presença de Deus não seria mais exclusivo, mas aberto a todos os que foram regenerados pela fé em Cristo. Assim, não existe mais uma casta sacerdotal exclusiva, mas todo crente é chamado a participar do sacerdócio espiritual diante do Senhor.
A Bíblia afirma de forma clara essa verdade extraordinária. “Vós sois sacerdócio santo” e “sacerdócio real” (1 Pedro 2:5,9), declara Pedro, ensinando que cada cristão possui vocação sacerdotal. O apóstolo João confirma que Jesus “nos fez reino e sacerdotes” (Apocalipse 1:6; 5:10). O autor de Hebreus proclama que agora temos ousadia para entrar no Santo dos Santos (Hebreus 10:19-22), algo impensável no antigo sistema. Cristo é o Sumo Sacerdote eterno, e por meio Dele somos elevados à condição de ministros espirituais, chamados a nos aproximar com confiança do trono da graça.
Esse sacerdócio universal, porém, não é apenas um título espiritual, mas uma responsabilidade sagrada. Se antes os sacerdotes apresentavam animais, incenso e ofertas, agora somos chamados a oferecer a nós mesmos como sacrifício vivo (Romanos 12:1-2). Oferecemos louvor como incenso espiritual (Hebreus 13:15), generosidade e boas obras como ofertas (Hebreus 13:16), e intercedemos como ministros diante de Deus e do mundo (1 Timóteo 2:1). Cada discípulo é um sacerdote, cada lar é um altar, e cada vida é uma oferta diante do Senhor. Somos chamados a anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9) e a agir como ministros da reconciliação (2 Coríntios 5:18-20).
É fundamental compreender que essa verdade não elimina os ministérios e ofícios estabelecidos por Deus para liderança e cuidado da igreja (Efésios 4:11-12; 1 Timóteo 3; Tito 1). Porém, esses ministérios não formam uma classe sacerdotal separada, como na Antiga Aliança. Eles existem para equipar os santos para a obra do ministério, e não para monopolizar o acesso a Deus. Na igreja de Cristo, não existem espectadores espirituais; não há espaço para uma mentalidade onde alguns “ministram” enquanto o restante apenas assiste. Toda a igreja é sacerdotal, todos são chamados a servir, todos têm acesso ao Santo dos Santos, todos participam da missão do Reino.
Assim, o sacerdócio universal dos santos representa o ápice da revelação de Deus: um povo inteiro vivendo diante do trono, não mais dependente de intermediários humanos, mas cheio do Espírito Santo, chamado a refletir a glória do Senhor no mundo. Somos templo, altar e sacerdote ao mesmo tempo. Isso significa que cada cristão é chamado à santidade, intercessão, serviço, proclamação e entrega total. Se Cristo é o nosso Sumo Sacerdote perfeito, nós, unidos a Ele, somos um povo sacerdotal, destinado a viver em adoração constante, como incenso e sacrifício vivo diante de Deus, até que Ele venha.
5.5 Sacrifícios
No sistema sacrificial instituído por Deus no Antigo Testamento, os sacerdotes eram responsáveis por oferecer cinco tipos principais de sacrifícios, conforme detalhado no livro de Levítico. Cada um desses sacrifícios possuía um propósito específico e apontava para aspectos diferentes da redenção e do relacionamento entre Deus e o homem. Mais que rituais, esses sacrifícios eram figuras proféticas que antecipavam a obra perfeita de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus.
1. Holocausto (Levítico 1)
O holocausto era o sacrifício mais completo. Nele, o animal (boi, cordeiro, cabra ou ave) era totalmente queimado no altar, sem que nenhuma parte fosse retida. Esse sacrifício representava a entrega total a Deus e simbolizava a completa consagração do ofertante. Era um ato de adoração e submissão, no qual o adorador se colocava diante de Deus com o desejo de dedicar toda a sua vida a Ele.
Significado Profético: O holocausto aponta para Jesus Cristo como Aquele que se entregou totalmente ao Pai, oferecendo-Se por inteiro em obediência e amor. Na cruz, Jesus foi o sacrifício perfeito, entregando Sua vida por nós de forma plena e voluntária (Efésios 5:2; João 10:17-18).
2. Oferta de Manjares (Levítico 2)
A oferta de manjares era uma oferta de cereais e pães, feita com farinha fina, azeite e incenso. Diferente dos demais sacrifícios, não envolvia sangue. Era uma oferta de gratidão, reconhecendo que tudo o que o homem possui vem de Deus, especialmente o alimento diário.
Significado Profético: Essa oferta representa Jesus como o "Pão da Vida" (João 6:35), Aquele que nutre e sustenta o povo de Deus. Simboliza também a oferta da vida sem pecado de Cristo, pois a oferta deveria ser sem fermento (símbolo do pecado) e perfumada com incenso, refletindo o aroma agradável de sua obediência perfeita.
3. Sacrifício Pacífico (Levítico 3)
O sacrifício pacífico era uma oferta voluntária que celebrava a comunhão com Deus. Parte do animal era queimada no altar, parte era dada aos sacerdotes, e o restante era compartilhado em uma refeição com o ofertante e sua família. Era uma celebração de gratidão, paz e comunhão restaurada.
Significado Profético: Este sacrifício aponta para a paz e a comunhão que Jesus nos oferece por meio de seu sacrifício (Romanos 5:1). Cristo é nossa paz, e em sua morte, Ele reconciliou o homem com Deus, abrindo caminho para uma comunhão íntima e duradoura (Efésios 2:14-18).
4. Sacrifício pelo Pecado (Levítico 4)
O sacrifício pelo pecado era obrigatório quando alguém, consciente ou inconscientemente, cometia um pecado contra Deus. Dependendo da pessoa (sacerdote, líder ou membro comum do povo), diferentes animais eram oferecidos. O sangue era aspergido no altar, simbolizando a purificação.
Significado Profético: Esse sacrifício aponta para Jesus como aquele que levou sobre si o pecado da humanidade (Isaías 53:6; Hebreus 9:26). Cristo foi oferecido como sacrifício para nos purificar de todo pecado e nos reconciliar com o Pai, oferecendo perdão e restauração completa (1 João 1:7-9).
5. Sacrifício pela Culpa (Levítico 5:14–6:7)
O sacrifício pela culpa (ou oferta pelo delito) tratava-se de um sacrifício específico para pecados que envolviam danos materiais ou infrações contra o santuário. Além do sacrifício, era necessário restituir o prejuízo com acréscimo. Ele tratava não apenas da culpa espiritual, mas também das consequências práticas do pecado.
Significado Profético: Este sacrifício prefigura a obra de Cristo, que não apenas nos perdoa, mas também nos restaura e repara aquilo que o pecado destruiu. Por meio d'Ele, temos a libertação da culpa e restauração total (Isaías 53:10-12), pois Ele pagou um preço completo e suficiente, quitando toda nossa dívida diante de Deus (Colossenses 2:13-14).
Cada um desses cinco sacrifícios revela um aspecto diferente da obra de redenção em Cristo. No holocausto, vemos sua entrega total; na oferta de manjares, sua vida santa e alimento espiritual; no sacrifício pacífico, a paz e a comunhão restauradas; no sacrifício pelo pecado, o perdão e a purificação; e no sacrifício pela culpa, a reparação e o resgate completo.
O sistema sacrificial do Antigo Testamento, apesar de suas limitações, era uma poderosa ilustração do plano eterno de Deus em Cristo. Tudo o que foi realizado pelos sacerdotes em rituais temporários foi plenamente cumprido, de forma eterna e perfeita, pelo sacrifício único e definitivo de Jesus na cruz (Hebreus 10:10-14). Assim, ao estudar esses sacrifícios, somos levados a contemplar a grandeza da graça e da obra redentora de nosso Salvador.
5.6 O Altar da Aliança
Nas aulas anteriores, aprendemos sobre os três altares essenciais na caminhada com Deus: o Altar do Jejum, o Altar da Palavra e o Altar da Oração. Nesta aula, vamos conhecer o quarto altar — o Altar da Aliança — e entender seu significado e importância em nossa jornada espiritual.
Como vimos, os cinco tipos principais de sacrifícios no sistema levítico: o holocausto, a oferta de manjares, o sacrifício pacífico, a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa (Levítico 1 a 7). Cada um desses sacrifícios carregava um significado espiritual e profético, apontando para a obra de Cristo e para a vida de adoração e consagração do povo de Deus.
O holocausto (sacrifício totalmente queimado) representava a entrega completa e irrestrita a Deus, simbolizando a dedicação total da vida ao Senhor. De forma semelhante, hoje, nossas ofertas e dízimos expressam essa consagração: reconhecemos que tudo o que temos vem de Deus e devolvemos uma parte como sinal de entrega e fidelidade, colocando Deus em primeiro lugar.
A oferta de manjares consistia em farinha, azeite e incenso, sem derramamento de sangue, e representava a gratidão a Deus pelos frutos do trabalho e pelas provisões diárias. Hoje, esta oferta se conecta diretamente com a prática das ofertas voluntárias e de primícias nos cultos, onde entregamos a Deus os primeiros frutos de nossa renda, como sinal de gratidão, honra e reconhecimento de Sua provisão.
O sacrifício pacífico ou de comunhão era oferecido em momentos de alegria e comunhão, simbolizando a celebração da paz com Deus e a comunhão entre os irmãos. No contexto atual, ao dizimarmos e ofertarmos, também estamos cooperando para que a comunhão no Corpo de Cristo se fortaleça, sustentando a obra missionária, o cuidado social e o crescimento da igreja.
As ofertas pelo pecado e pela culpa tratavam especificamente do perdão dos pecados e da reparação de danos. Hoje, não trazemos mais sacrifícios de animais, pois Cristo já ofereceu o sacrifício perfeito e definitivo pelos nossos pecados. No entanto, nossas ofertas continuam sendo um ato de arrependimento e compromisso, pois representam um coração que reconhece a graça e deseja viver de forma justa e generosa, reparando o que for necessário.
No culto cristão, o dízimo, as ofertas e as ofertas de primícias não são apenas contribuições financeiras; são atos de fé, obediência e adoração, profundamente enraizados nas Escrituras e na história do povo de Deus.
1. Dízimos - Devolução com Fidelidade
O dízimo significa “a décima parte”. Trata-se de separar 10% de toda a nossa renda e devolver ao Senhor como reconhecimento de que Ele é o dono de tudo o que temos. O dízimo não é uma oferta opcional, mas uma devolução fiel e regular, um compromisso contínuo com Deus.
Na prática, a cada salário, lucro ou qualquer outra fonte de ganho, separamos os 10% e os entregamos na igreja local, que administra esses recursos para a expansão do Reino de Deus, o sustento de ministérios, ações sociais e a manutenção do culto.
É importante lembrar que a prática do dízimo antecede a própria Lei de Moisés. Muito antes da instituição levítica, Abraão entregou o dízimo a Melquisedeque, o sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis 14:18-20). O livro de Hebreus revela que Melquisedeque é uma figura profética de Cristo, nosso Sumo Sacerdote eterno (Hebreus 7:1-8).
Isso nos mostra que o princípio do dízimo não está restrito à Lei, mas é uma expressão de fé, honra e aliança que permanece até hoje, pois Jesus é o mesmo sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque. Assim como Abraão reconheceu a supremacia espiritual e entregou seu dízimo, também nós, como filhos da fé, honramos ao Senhor com nossos dízimos e ofertas, sabendo que eles são recebidos no Céu por Cristo, o nosso verdadeiro sacerdote.
Assim como Abraão entregou o dízimo a Melquisedeque (Gênesis 14:20) e Jacó prometeu dizimar tudo o que Deus lhe desse (Gênesis 28:22), também seguimos esse princípio como expressão de gratidão, honra e confiança, sabendo que Deus é fiel em suprir todas as necessidades (Malaquias 3:10).
2. Ofertas - Generosidade Voluntária
As ofertas são contribuições voluntárias, que vão além do dízimo. Não possuem percentual fixo e são dadas de acordo com a disposição do coração de cada um.
Podem ser entregues como expressão de gratidão, adoração, fé, amor ao próximo ou desejo de cooperar com projetos específicos da igreja, como missões, obras sociais, construção ou outras necessidades.
A Bíblia ensina que Deus se alegra com quem oferta com alegria e sinceridade, não por obrigação, mas por amor (2 Coríntios 9:7). Nossas ofertas revelam um coração generoso e sensível à obra de Deus.
3. Ofertas de Primícias - Honra e Reconhecimento
As ofertas de primícias representam a entrega a Deus dos "primeiros frutos", ou seja, a primeira parte de uma colheita, salário ou lucro. Elas simbolizam honra, consagração e gratidão pelo sustento recebido. Essa prática tem origem nas ofertas de primícias do Antigo Testamento, quando o povo de Israel separava os primeiros frutos da terra e os apresentava ao Senhor (Êxodo 23:19; Provérbios 3:9-10).
Segundo as Escrituras, a oferta das primícias sempre esteve ligada ao princípio da consagração e ao sustento dos sacerdotes, aqueles que serviam no templo. O Senhor ordenou que as primícias de todos os frutos da terra fossem levadas ao local de adoração e entregues ao sacerdote em exercício (Deuteronômio 26:1-11). Essa prática não apenas reconhecia a provisão divina, mas também sustentava os sacerdotes e levitas, conforme estabelecido em Números 18:8-13, onde Deus declara que as primícias pertencem aos sacerdotes.
O ato de levar as primícias ao sacerdote representava a consagração total da colheita e garantia a bênção sobre todo o restante da produção. Não era apenas uma oferta material, mas um ato espiritual, no qual o povo reconhecia a soberania e a provisão divina. Eles não entregavam o que sobrava, mas aquilo que vinha em primeiro lugar.
Hoje, mesmo não estando mais debaixo do sistema levítico, esse princípio continua vivo no coração da Igreja. Em Cristo, nosso Sumo Sacerdote eterno, também apresentamos nossas primícias — seja o primeiro salário de um novo emprego, o primeiro lucro ou uma oferta especial no início de um ciclo. Ao consagrar as primícias, continuamos reconhecendo que tudo vem de Deus e honramos o ministério que Ele estabeleceu em sua casa.
Uma maneira prática e constante de oferecer as primícias é separar, a cada mês, o valor correspondente ao primeiro dia de trabalho. Para isso, basta dividir o salário mensal por 30 e dedicar esse valor como uma oferta simbólica de honra e consagração ao Senhor. Em seguida, essa oferta deve ser entregue ao sacerdote — o líder espiritual da igreja — como reconhecimento da provisão e fidelidade de Deus.
Assim como, no passado, as primícias eram destinadas ao sustento dos sacerdotes, hoje essas ofertas continuam tendo um propósito nobre: apoiar a obra de Deus e manter aqueles que se dedicam integralmente ao ministério. Mais do que um simples gesto financeiro, oferecer as primícias é um ato de honra, fé e gratidão. É uma prática que, quando feita com um coração sincero e adorador, continua liberando bênçãos sobre a vida daqueles que a exercem com alegria.
Conclusão
Dízimos, ofertas e primícias, quando compreendidos em sua essência, não são apenas práticas financeiras, mas atos espirituais que carregam o mesmo coração dos antigos sacrifícios: consagração total (holocausto), gratidão e generosidade (manjares e primícias), comunhão (sacrifício pacífico), arrependimento (sacrifício pelo pecado) e reparação (sacrifício pela culpa). Eles nos lembram que, em Cristo, o verdadeiro sacrifício foi consumado, e agora somos chamados a viver uma vida de adoração contínua, onde tudo o que temos e fazemos deve honrar a Deus. Por isso, cada oferta que entregamos hoje é um ato de fé, gratidão e obediência, expressando o reconhecimento de que tudo pertence ao Senhor e que nossa vida deve ser um sacrifício vivo (Romanos 12:1-2).
Por fim, é importante ressaltar que o curso Raphá Ensino, em harmonia com a visão da nossa igreja local, adota uma compreensão sobre a prática dos dízimos, ofertas e primícias — algo que, segundo nosso entendimento, reflete de forma fiel o ensino das Escrituras. Contudo, reconhecemos e respeitamos as diversas perspectivas — sejam coletivas ou individuais — que existem sobre esse tema. Acima de tudo, cremos que essas práticas devem ser realizadas com entendimento, liberdade e, principalmente, como uma expressão sincera de adoração a Deus.
Até a próxima aula!