4. Práticas Espirituais: Comunicação
Sabemos que Mateus foi não apenas um discípulo, mas uma testemunha direta da vida, palavras e obras de Jesus. Mais tarde, como apóstolo, ele escreveu o Evangelho que leva seu nome, um registro inspirado que revela o coração do ministério de Cristo. Em seu relato, Mateus nos mostra, de maneira vívida, o relacionamento entre o Filho e o Pai — um relacionamento fundamentado em amor, obediência e constante comunicação.
A comunicação, nesse sentido, não é apenas uma ferramenta, mas um reflexo da natureza relacional de Deus. Desde Gênesis, vemos um Deus que fala, que se revela, que busca o homem. A Palavra é o meio pelo qual Deus cria, orienta, corrige e redime. No próprio Jesus, o Verbo que se fez carne (João 1:14), temos a expressão suprema dessa comunicação divina.
Relacionamento sem comunicação é impossível. E mais do que isso: a qualidade da comunicação revela a profundidade do relacionamento. Por isso, para compreendermos o propósito de todas as coisas — inclusive nossa identidade e propósito — precisamos olhar para Deus como nossa referência máxima.
Aprender a nos comunicar de forma saudável, verdadeira e transformadora começa por compreender como Deus se comunica conosco. Ele fala por meio da criação, das Escrituras, de Jesus Cristo, do Espírito Santo, da oração, de experiências sobrenaturais, de outras pessoas e das circunstâncias da vida.
4.1 Como Deus se Comunica com o Homem
Desde o princípio, Deus desejou se relacionar com o ser humano, e para isso, Ele se revela e se comunica de diversas maneiras. A comunicação divina é um dos fundamentos da fé cristã, pois é através dela que conhecemos quem Deus é, entendemos Sua vontade e somos transformados em nosso interior. Essa comunicação não é apenas informativa, mas profundamente relacional — um convite constante ao amor, à obediência e à comunhão com o Criador.
Uma das formas mais universais da comunicação divina é através da criação. A natureza, com sua ordem, beleza e complexidade, revela a existência, o poder e a glória de Deus a todos os povos e culturas, independentemente de religião ou localização geográfica. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Salmo 19:1). O apóstolo Paulo reforça essa verdade ao dizer: “Porque os atributos invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua divindade, claramente se reconhecem, desde a criação do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que Deus fez” (Romanos 1:20).
No entanto, Deus também se comunicou de maneira especial e específica através das Escrituras. A Bíblia é sua Palavra escrita, inspirada pelo Espírito Santo, e contém tudo o que precisamos saber para viver segundo a sua vontade. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3:16). Por meio da Palavra, recebemos direção, correção, encorajamento e revelação do caráter de Deus.
A revelação mais plena de Deus, contudo, veio por meio de Jesus Cristo. Ele é a Palavra viva que se fez carne (João 1:14), a imagem exata do Deus invisível (Colossenses 1:15; Hebreus 1:3). “Havendo Deus antigamente falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:1-2). Jesus disse: “Quem me vê a mim, vê o Pai” (João 14:9). Em Jesus, Deus não apenas falou — Ele se fez presente entre nós.
Além disso, o Espírito Santo continua hoje a falar conosco de maneira pessoal e íntima. Ele habita no coração do crente e nos guia em toda a verdade (João 16:13), nos consola, nos corrige e nos ensina. “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que eu vos disse” (João 14:26). O apóstolo Paulo também afirma: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8:16).
A oração também é uma via de comunicação com Deus. Ela não é um monólogo, mas um diálogo. Quando oramos, nos colocamos diante de Deus para falar, mas também para ouvir. Ele pode responder com clareza, com paz interior, com direção espiritual ou até com silêncio — que também comunica algo. O Senhor mesmo nos convida: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jeremias 33:3).
Ao longo da história bíblica, Deus se revelou a pessoas por meio de experiências sobrenaturais — como sonhos, visões e impressões espirituais. Vemos isso na vida de José (Gênesis 37), Daniel (Daniel 7), Pedro (Atos 10) e Paulo (Atos 16:9), entre outros. Em Atos 2:17, o apóstolo Pedro cita o profeta Joel ao declarar: “Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os jovens terão visões, e os velhos terão sonhos.”
Deus também pode usar outras pessoas para falar conosco — como pastores, profetas, mestres e irmãos na fé. Todos podem ser instrumentos da sua voz, desde que estejam alinhados com a verdade das Escrituras. Como está escrito: “Se alguém fala, fale segundo as palavras de Deus” (1 Pedro 4:11). Por isso, é essencial ouvir com discernimento, examinando tudo à luz da Palavra.
Por fim, Deus também se comunica por meio das circunstâncias. Ele é soberano e pode usar as situações da vida — inclusive lutas e provações — para nos atrair, corrigir ou direcionar. Jonas, por exemplo, foi confrontado com a vontade de Deus no ventre de um grande peixe (Jonas 2). Já Paulo e Silas, mesmo presos injustamente, experimentaram o poder e a direção divina em meio à prisão (Atos 16:25-34). Em todas as coisas, Deus fala — o desafio é mantermos o coração sensível à Sua voz.
Deus continua falando. A grande pergunta é: estamos ouvindo? Cultivar sensibilidade espiritual, familiaridade com a Palavra e um coração disposto são atitudes essenciais para reconhecer e obedecer à voz d’Ele.
4.2 Como o Homem se Comunica com Deus
A oração é o principal meio pelo qual o ser humano se comunica com Deus. É mais do que apenas palavras — trata-se de uma conexão entre o nosso espírito e o Espírito de Deus. Essa comunicação pode acontecer de diferentes formas e em diferentes níveis. De maneira didática, podemos identificar três dimensões principais dessa relação com o Senhor: pelos lábios, pelo corpo e pelo coração.
O primeiro nível é a oração verbal, quando usamos nossas palavras para falar com Deus. É a forma mais comum e visível de oração — seja em voz alta ou em silêncio — onde expressamos nossos pensamentos, sentimentos, súplicas e louvores. A Bíblia diz: “Por meio de Jesus, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13:15). As palavras são importantes, pois revelam aquilo que está transbordando do nosso interior.
O segundo nível envolve o nosso corpo. Muitas vezes, nos esquecemos de que também oramos com gestos e atitudes físicas. Ao levantar as mãos, nos ajoelhar, cantar, dançar ou expressar reverência com o corpo, estamos externando a nossa adoração. Não fomos chamados para uma adoração fria ou apática, mas para uma entrega viva e sincera. O salmista nos convida: “Cantem ao Senhor um cântico novo... Alegrem-se no seu Criador... Louvem o seu nome com danças, com tamborins e harpas” (Salmos 149:1-3). O nosso corpo pode — e deve — expressar aquilo que a alma sente diante de Deus.
Por fim, a forma mais profunda de oração não está nas palavras, mas em um coração sincero e quebrantado diante do Senhor. Mais do que formas, o que realmente importa para Deus é a sinceridade com que nos aproximamos d’Ele. Há uma tendência humana de valorizar aparências ou repetições religiosas, mas o Senhor vê além das palavras: Ele examina o coração. Jesus mesmo criticou aqueles que apenas aparentavam piedade: “Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim” (Mateus 15:8).