A palavra hebraica kaporet, traduzida como “Propiciatório”, significa “lugar de expiação”, e aponta diretamente para a obra redentora de Cristo. No Novo Testamento, essa realidade é plenamente cumprida em Jesus:
“Deus o apresentou como sacrifício para propiciação, mediante a fé, pelo seu sangue” (Romanos 3:25)
Assim, o Propiciatório é uma figura clara da cruz, onde o sangue do Cordeiro foi derramado para que pudéssemos ter paz com Deus. Ali, justiça e misericórdia se encontram, e a reconciliação se torna possível.
Além disso, o Propiciatório revela a ação conjunta da Trindade na obra da redenção:
Deus Pai é representado pela santidade e justiça do trono onde o sangue era aspergido (Salmo 99:1). Sua justiça exige expiação, e Ele é o autor do plano de salvação (Romanos 3:25).
Deus Filho é revelado no sangue derramado: Jesus é o Cordeiro, o Sumo Sacerdote e o próprio Propiciatório. Ele se ofereceu em nosso lugar e abriu o caminho de volta à presença do Pai (1 João 2:2).
Deus Espírito Santo é simbolizado pela glória manifesta entre os querubins — a Shekinah. No Novo Testamento, essa presença divina agora habita nos crentes, aplicando a salvação, santificando e testemunhando o sacrifício de Cristo em nossos corações (Hebreus 10:15).
Dessa forma, a Arca da Aliança e o Propiciatório não eram apenas objetos cerimoniais, mas tipos proféticos poderosos que apontavam para a plenitude da redenção em Cristo, operada pela Trindade em perfeita harmonia. Em Jesus, temos justiça, provisão, sacerdócio eterno e acesso livre ao Santo dos Santos — à própria presença de Deus.
2.2 Revelação do Lugar Santíssimo em Apocalipse
O livro de Apocalipse retoma, de maneira simbólica e profundamente teológica, os elementos do Lugar Santíssimo do Antigo Testamento, projetando-os para o cenário celestial e revelando seu cumprimento pleno em Cristo. Em Apocalipse 11:19, lemos que o templo de Deus no céu foi aberto, e ali se viu a Arca da Aliança. Essa visão remete diretamente ao Santo dos Santos, onde a Arca era guardada como o símbolo mais sagrado da presença de Deus entre o povo de Israel.
Agora, no contexto celestial, essa revelação indica que, em Cristo, a comunhão e a aliança com Deus foram plenamente restauradas. O acesso à presença divina — outrora restrito e reservado apenas ao sumo sacerdote uma vez por ano — está agora aberto de forma definitiva e irrestrita por meio do sacrifício do Cordeiro.
Embora a Arca da Aliança seja mencionada de forma literal apenas nesse versículo, seu significado atravessa toda a narrativa do Apocalipse. Ela continua sendo o emblema da fidelidade de Deus à sua aliança, bem como da sua presença constante entre os redimidos. Seus conteúdos simbólicos — as Tábuas da Lei (justiça), o Maná (provisão divina) e a Vara de Arão (sacerdócio escolhido por Deus) — encontram pleno cumprimento na pessoa de Jesus Cristo. Assim, o cenário celeste descrito por João reafirma que Cristo é o cumprimento perfeito de tudo o que a Arca representava no Antigo Testamento.
Quanto ao Propiciatório, embora o termo não apareça diretamente no Apocalipse, sua realidade espiritual está presente em toda a obra. Em Apocalipse 1:5, Jesus é descrito como aquele “que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados”, ecoando o ritual do Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote aspergia sangue sobre o Propiciatório para a remissão dos pecados do povo.
A figura de Cristo como Cordeiro, central em Apocalipse 5, reforça essa conexão: Ele é o sacrifício perfeito, o Sumo Sacerdote eterno, e o próprio lugar de propiciação diante do Pai. Ao ser declarado digno de abrir o livro selado, Jesus é reconhecido como aquele cuja obra redentora é plena, eficaz e aceita nos céus.
Portanto, o Apocalipse reafirma que os símbolos do Lugar Santíssimo — a Arca e o Propiciatório — não são apenas reminiscências do passado, mas realidades cumpridas em Cristo. Ele é a manifestação final da presença, justiça, provisão e misericórdia de Deus, e é por meio dEle que a humanidade tem acesso ao trono da graça. Como aponta toda a Escritura e culmina o Apocalipse, Jesus é o centro da adoração celestial e o Cordeiro entronizado, diante de quem todo joelho se dobra e toda voz proclama: “Digno é o Cordeiro que foi morto!” (Apocalipse 5:12).