Esse incenso era oferecido duas vezes ao dia — pela manhã e ao entardecer — no momento em que os sacerdotes entravam para cuidar do candelabro. A fumaça subia diante do Senhor como um símbolo visível da oração contínua do povo. O altar também era purificado anualmente com sangue no Dia da Expiação (Yom Kippur), como parte do ritual de reconciliação nacional.
O significado espiritual do Altar de Incenso é riquíssimo. Em primeiro lugar, ele representa a oração e a intercessão. Assim como a fumaça do incenso subia suavemente e preenchia o santuário, também as orações dos fiéis sobem à presença de Deus. O salmista expressa isso poeticamente:
“Suba à tua presença a minha oração como incenso, e seja o levantar das minhas mãos como o sacrifício da tarde.” (Salmos 141:2)
Esse mesmo símbolo é retomado em Apocalipse, onde os anjos apresentam incenso diante do trono de Deus, identificado como “as orações dos santos” (Apocalipse 5:8; 8:3-4). Ou seja, o altar é um lembrete de que nossas palavras, clamores e intercessões são preciosas aos olhos do Senhor.
Além disso, o altar simbolizava o acesso à presença divina. Embora o véu ainda separasse o Lugar Santo do Santíssimo, o aroma do incenso atravessava essa barreira, como um sinal profético de que a oração pode alcançar onde os pés humanos não chegam. Esse símbolo se cumpre de forma poderosa na morte de Cristo, quando o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mateus 27:51), indicando que, por meio d’Ele, o caminho ao trono da graça foi definitivamente aberto.
No Novo Testamento, o altar de incenso se cumpre em Cristo, nosso Sumo Sacerdote eterno. O autor de Hebreus declara:
“Ele vive para interceder por nós.” (Hebreus 7:25)
Assim como o sacerdote oferecia incenso diariamente, Jesus intercede continuamente diante do Pai — não com fumaça e aromas terrenos, mas com seu próprio sangue, justiça e amor. Sua intercessão é eficaz, constante e perfeita.
Portanto, o Altar de Incenso não era apenas um item do mobiliário sagrado. Ele apontava para a realidade do relacionamento entre Deus e seu povo. Era um lugar onde a terra se encontrava com o céu, onde a oração era recebida como fragrância agradável, e onde o coração contrito encontrava acolhimento. Hoje, por meio de Cristo, esse altar vive em nossos corações. Somos convidados a oferecer, pelo Espírito, sacrifícios de louvor, intercessão e gratidão — com a certeza de que o Céu continua ouvindo.
3.5 Os Três Altares da Vida com Deus
Como exercemos o sacerdócio hoje?
A estrutura do Lugar Santo no Tabernáculo de Moisés — com seus três móveis sagrados — pode ser compreendida não apenas como uma realidade litúrgica do Antigo Testamento, mas como um modelo espiritual que aponta para disciplinas fundamentais da vida cristã. Assim como o sacerdote ministrava diariamente diante de Deus nesse ambiente sagrado, o cristão é chamado a cultivar uma vida devocional constante, sustentada por três pilares.
1. O Altar do Jejum
A Mesa de Pães da Proposição representa o altar do jejum. Na mesa eram colocados doze pães, renovados semanalmente, simbolizando a dependência constante de Deus e a comunhão das doze tribos diante d’Ele. Esses pães, apontavam para o sustento espiritual vindo do próprio Deus.
Embora o jejum envolva a abstinência de alimento físico, seu verdadeiro propósito é despertar em nós a fome por aquilo que é eterno. Ao jejuar, confessamos que não vivemos apenas de pão, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus (Mateus 4:4). Jesus declarou:
“Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim jamais terá fome.” (João 6:35)
O jejum, portanto, não é privação por si só, mas um exercício de dependência — um modo de nos lembrar que nosso verdadeiro sustento vem do céu.
2. O Altar da Palavra
A Menorá (Candelabro de Ouro) era a única fonte de luz no Lugar Santo. Sem ela, tudo estaria em trevas. Da mesma forma, a Palavra de Deus é a luz que nos permite enxergar com clareza espiritual e nos capacita a servir no Reino. O salmista reconhece:
“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho.” (Salmo 119:105)
Cristo, a Palavra viva, também disse:
“Eu sou a luz do mundo.” (João 8:12)
Meditar nas Escrituras é como manter acesa a chama da menorá. É por meio da Palavra que recebemos discernimento, direção e transformação.
Assim como o sacerdote cuidava das lâmpadas diariamente, o cristão é chamado a manter viva a luz da revelação por meio de leitura, meditação e prática da Palavra.
3. O Altar da Oração
Colocado diante do véu, o Altar de Incenso era o lugar onde os sacerdotes ofereciam incenso aromático todos os dias, representando as orações do povo subindo diante de Deus. O salmista expressa isso de forma bela:
“Suba à tua presença a minha oração como incenso...” (Salmo 141:2)
Em Apocalipse 5:8, as orações dos santos são comparadas ao incenso precioso diante do trono celestial. A oração é o elo contínuo entre o céu e a terra — é comunhão, clamor e rendição. E, assim como no Tabernáculo, Cristo, nosso Sumo Sacerdote, intercede por nós dia e noite (Hebreus 7:25).
Os três móveis do Lugar Santo nos revelam que o culto verdadeiro não se resume a cerimônias externas, mas está alicerçado em práticas espirituais internas e constantes.
Juntas, essas disciplinas formam o coração da vida devocional cristã — um Lugar Santo interior onde ministramos continuamente diante de Deus como sacerdotes da Nova Aliança. Ali, somos transformados pela luz, pelo aroma e pelo pão do céu.