6. Grande Comissão

Nos capítulos finais do Evangelho de Mateus, somos conduzidos ao clímax da história de Jesus: sua morte, ressurreição e envio final aos discípulos. Após ser injustamente julgado, Jesus é crucificado, entregando sua vida como sacrifício pelos pecados da humanidade (Mateus 27). Seu corpo é sepultado, mas ao terceiro dia, Ele ressuscita com poder, vencendo a morte e confirmando todas as suas promessas (Mateus 28:1–10). A ressurreição não apenas revela sua glória como Filho de Deus, mas também inaugura uma nova era: o início da missão da Igreja. Pouco antes de ascender ao céu, Jesus se encontra com os discípulos e declara: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações...” (Mateus 28:18–20). Essa é a Grande Comissão, o chamado final de Jesus no Evangelho de Mateus — e também o ponto de partida da missão da Igreja no mundo.

A Grande Comissão é uma das declarações mais significativas de Jesus e o ponto culminante da missão redentora de Deus na terra. Registrada principalmente em Mateus 28:18–20, ela marca o momento em que o Cristo ressuscitado transfere à sua Igreja a responsabilidade de continuar a obra que Ele iniciou. Não se trata apenas de um convite, mas de uma ordem divina, um comissionamento direto do Rei dos reis aos seus discípulos, conferindo-lhes autoridade espiritual para alcançar todas as nações com o evangelho.

Jesus declara: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mateus 28:18–20)

Essa ordem não é isolada, mas faz parte de um plano que atravessa toda a narrativa bíblica: desde a aliança com Abraão, em que Deus promete abençoar “todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3), até os profetas que anunciaram a salvação que alcançaria os gentios (Isaías 49:6). Jesus cumpre essa missão e, ao ressuscitar, autoriza os discípulos a se tornarem participantes ativos da reconciliação do mundo com Deus, não apenas levando pessoas a crer, mas formando verdadeiros discípulos — homens e mulheres transformados, batizados e ensinados a obedecer ao Senhor.

A Grande Comissão não é apenas evangelística; ela é discipuladora, trinitária e global. É evangelística porque proclama as boas novas da salvação. É discipuladora porque exige o compromisso com uma nova vida em Cristo. É trinitária porque fundamenta-se na autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E é global porque se dirige a todas as nações — ultrapassando barreiras de etnia, cultura, idioma e tempo.

Esse comissionamento também revela uma profunda verdade sobre a identidade e missão da Igreja: ela não existe apenas para si mesma, mas para o mundo. Ela é enviada, como o próprio Cristo foi enviado pelo Pai (João 20:21). Sua razão de existir está no cumprimento desse mandato. Por isso, a Grande Comissão se torna a bússola da missão cristã em todas as gerações — seja através da pregação, do ensino, do serviço, das artes, das mídias ou de qualquer expressão que glorifique a Deus e leve o evangelho adiante.

Ao longo do Novo Testamento, vemos os discípulos cumprindo esse mandato com coragem, sinais do Espírito e disposição de entregar suas vidas. A Igreja se expande de Jerusalém até os confins do Império Romano, confirmando que a Grande Comissão não é um projeto humano, mas o mover contínuo do próprio Cristo, presente em sua Igreja até o fim dos tempos. Ela permanece hoje como a missão central da fé cristã, o chamado que nos tira da zona de conforto e nos envia ao mundo, com a certeza de que aquele que comissionou é também aquele que caminha conosco.


6.1 Discipulado

O discipulado é o coração da Grande Comissão e o verdadeiro propósito da missão da Igreja. Quando Jesus ordenou: “Ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19), Ele não estava simplesmente chamando os seus seguidores a pregarem ou converterem pessoas, mas a formarem discípulos — ou seja, homens e mulheres que aprendem de Cristo, vivem como Ele e transmitem sua vida a outros. A palavra “discípulo” no grego (mathētēs) significa “aluno”, “aprendiz”, e descreve alguém que não apenas ouve os ensinos de um mestre, mas caminha com ele, observa suas ações, assimila seus valores e replica sua conduta.

A Grande Comissão revela que o discipulado é um processo abrangente que envolve três dimensões: ir, batizar e ensinar. Primeiro, é necessário ir — ou seja, sair do comodismo, atravessar barreiras e anunciar o evangelho às pessoas onde elas estiverem. Depois, ao crerem, elas devem ser batizadas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, marcando sua entrada pública na nova aliança com Deus. Por fim, o discipulado exige ensinar a obedecer tudo o que Cristo ordenou, o que implica em uma caminhada de transformação, formação espiritual e obediência contínua.

O discipulado cristão, portanto, não se resume a um curso ou a encontros semanais. Ele é uma jornada relacional e progressiva, onde o novo crente é acompanhado por alguém mais maduro na fé, que o ajuda a crescer no conhecimento de Deus, na prática das Escrituras e na vivência da fé no cotidiano. Essa é a pedagogia de Jesus: Ele não formou uma multidão de seguidores superficiais, mas doze discípulos íntimos, com quem caminhou por três anos, ensinando com palavras e com o exemplo.

Além disso, o discipulado é reprodutivo por natureza. Um verdadeiro discípulo não apenas aprende, mas se torna um fazedor de outros discípulos. Em 2 Timóteo 2:2, Paulo orienta Timóteo: “E o que de mim ouviste entre muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros.” Essa é a lógica do Reino: multiplicação através de relacionamentos, não de programas.

A base do discipulado também está no amor e na graça. Não discipulamos com imposições ou superioridade, mas com compaixão e serviço, refletindo o próprio Cristo. O discipulado é um ambiente onde feridas são curadas, identidades são restauradas e vidas são edificadas no fundamento sólido da Palavra. É ali que se aprende a orar, a perdoar, a obedecer, a resistir ao pecado e a viver de forma santa e frutífera.

Em resumo, discipular é cumprir a missão de Jesus na prática, reproduzindo a vida do Mestre em outros. A Grande Comissão não é um chamado exclusivo a pastores ou líderes, mas a todo aquele que segue Jesus. Fazer discípulos é o maior privilégio e a maior responsabilidade da Igreja. É assim que o Reino avança — de pessoa em pessoa, de geração em geração, até que todos os povos ouçam e vejam Cristo refletido em sua Igreja.


6.2 Trindade

A Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — é uma das verdades mais profundas e fundamentais da fé cristã. Embora a palavra “trindade” não apareça diretamente nas Escrituras, o conceito está claramente revelado em diversos textos, especialmente no contexto da Grande Comissão, em que Jesus comissiona seus discípulos a batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Essa declaração final de Jesus antes de ascender ao céu revela, de forma explícita, a natureza triúna de Deus e estabelece a base teológica e espiritual do batismo cristão.

Ao dizer “em nome” — no singular — Jesus não se refere a três deuses diferentes, mas a um único Deus em três pessoas distintas. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três manifestações ou fases de Deus, mas coexistem eternamente em perfeita unidade, comunhão e amor. O batismo, portanto, é mais do que um rito simbólico: é uma entrada espiritual na comunhão com a Trindade. Ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito é ser incluído na vida de Deus, ser regenerado pelo Espírito, identificado com o Filho e adotado pelo Pai.

Essa revelação da Trindade na Grande Comissão encontra paralelo direto no batismo de Jesus, registrado em Mateus 3:16–17. Ali, os céus se abrem, o Filho é batizado, o Espírito desce como pomba e o Pai fala dos céus: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.” Neste momento único, as três pessoas da Trindade se manifestam de forma distinta, porém totalmente unidas. O batismo de Jesus, portanto, é a primeira grande revelação pública da Trindade, antecipando o que mais tarde seria confirmado na missão da Igreja.

A conexão entre esses dois momentos — o batismo de Jesus e a Grande Comissão — mostra que a Trindade não é uma doutrina abstrata, mas um fundamento prático da fé cristã. O Deus que nos salva é o Pai que nos amou desde antes da fundação do mundo, o Filho que veio nos resgatar com sua vida, morte e ressurreição, e o Espírito Santo que habita em nós, nos guia e nos transforma à imagem de Cristo. No batismo cristão, essa realidade se torna concreta: somos imersos não apenas em água, mas na identidade, na autoridade e na comunhão com o Deus trino.

Além disso, a Trindade também serve como modelo de unidade e missão. Assim como o Pai enviou o Filho, e o Filho enviou o Espírito, agora a Igreja é enviada ao mundo em nome da Trindade, para proclamar o evangelho e fazer discípulos. Nossa missão nasce da missão de Deus (o missio Dei) e carrega em si o DNA trinitário: amor que envia, graça que redime e poder que transforma.

Portanto, compreender e viver à luz da Trindade é essencial para a vida cristã. Não apenas cremos em Deus, mas vivemos em Deus, sendo continuamente formados pela presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Grande Comissão, ao nos enviar a batizar em nome da Trindade, nos convida a mergulhar não só outras pessoas na fé, mas também a mergulhar nossas próprias vidas nessa comunhão eterna e gloriosa.


6.3 Cinco Ministérios

Agora vamos conhecer os Cinco Ministérios, também chamados de Dons Ministeriais, que Cristo concedeu à Igreja com o propósito de edificação, unidade e amadurecimento espiritual. Este é o foco do STEP ONE Módulo 1. Mais adiante, no NEXT LEVEL Módulo 2, abordaremos os Dons Espirituais distribuídos pelo Espírito Santo, que capacitam cada crente para servir com eficácia no Corpo de Cristo.

Na última ceia, quando Jesus partiu o pão e o entregou aos discípulos, Ele não apenas instituiu um memorial da sua morte, mas também revelou um princípio espiritual profundo: o corpo de Cristo seria entregue e repartido para alimentar, sustentar e edificar o seu povo. “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lucas 22:19) — com essas palavras, Jesus apontava para sua entrega na cruz, mas também antecipava a forma como sua vida seria multiplicada através da Igreja. Depois da ressurreição, esse corpo já não seria físico, mas espiritual: a comunidade dos santos, formada por todos os que creriam n’Ele.

É nesse contexto que os cinco ministérios surgem como expressão viva do corpo repartido de Cristo. Em Efésios 4:11–12, o apóstolo Paulo ensina que Jesus, ao subir aos céus, “deu dons aos homens” e estabeleceu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres com um propósito claro: “aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado”. Ou seja, o corpo que foi partido na ceia agora é distribuído à Igreja em forma de dons ministeriais — diferentes expressões do próprio Cristo, operando por meio de pessoas chamadas, capacitadas e enviadas.

Assim como o pão foi repartido entre os discípulos, Cristo continua a se repartir entre os membros do seu corpo através dos cinco ministérios, para que todos sejam nutridos, amadurecidos e unidos na plenitude do Filho de Deus. Esses ministérios não são cargos humanos ou títulos de prestígio, mas expressões do Cristo ressurreto operando em sua Igreja, conduzindo-a à maturidade e preparando-a como Noiva santa para o dia da sua volta.

Cada ministério representa uma dimensão da atuação de Jesus:

O dom de apóstolo é fundamental para a edificação da Igreja. A palavra “apóstolo” (do grego apóstolos) significa “enviado” ou “mensageiro”, e no contexto bíblico refere-se a alguém comissionado diretamente por Cristo para lançar fundamentos, abrir novos caminhos, plantar igrejas e zelar pela doutrina (Efésios 4:11; 1 Coríntios 3:10).

Diferente de líderes locais, os apóstolos atuam com visão estratégica, autoridade espiritual e alcance global, como Paulo, que se via como “sábio construtor” (1 Coríntios 3:10) e foi chamado diretamente por Jesus após a ascensão (Atos 9:3-6; Gálatas 1:1).

Embora os doze apóstolos tenham um papel único como testemunhas da ressurreição (Apocalipse 21:14), o Novo Testamento reconhece outros apóstolos além deles:

Esses casos mostram que o ministério apostólico continuou além dos doze, sendo necessário para o avanço, correção e consolidação da fé cristã.

Portanto, o dom de apóstolo não é apenas histórico, mas um ministério atual, vital e contínuo no Corpo de Cristo (Efésios 2:20), pelo qual Deus ainda chama e envia pessoas para estabelecer igrejas, formar líderes e manter a Igreja fiel à sua missão global.

O dom de profeta é essencial para a edificação, exortação e direção espiritual da Igreja (1 Coríntios 14:3). Diferente da ideia comum de “prever o futuro”, o profeta no Novo Testamento comunica a vontade de Deus de forma clara e transformadora, ajudando a discernir os tempos, corrigir caminhos e despertar fé.

Com o Espírito Santo derramado sobre todos os crentes (Atos 2:17–18), muitos podem profetizar, mas o ministério de profeta é um chamado específico, contínuo e com responsabilidade diante de Deus e da Igreja (Efésios 4:11). O profeta atua junto aos demais ministérios para alinhar a Igreja ao coração de Deus, alertando contra enganos e fortalecendo o discernimento espiritual.

Exemplos desse ministério incluem:

Portanto, o dom de profeta permanece ativo e necessário, trazendo direção espiritual viva, sem substituir a Escritura, mas confirmando sua aplicação para cada geração.

O dom de evangelista é um chamado específico e essencial para a missão da Igreja. O evangelista é aquele que anuncia as boas novas com paixão, clareza e autoridade espiritual, despertando os perdidos para a salvação e a Igreja para sua responsabilidade missionária (Efésios 4:11).

Embora todos os cristãos sejam chamados a testemunhar, o evangelista possui uma unção especial para proclamar o evangelho de forma impactante, levando pessoas ao arrependimento, à fé e à transformação. Seu ministério abrange tanto a evangelização externa — cruzando fronteiras geográficas e culturais — quanto a edificação interna da Igreja, treinando os santos para o testemunho pessoal (Marcos 16:15).

O único chamado explicitamente de “evangelista” no Novo Testamento é Filipe (Atos 21:8), que pregou com poder em Samaria (Atos 8:5–8), evangelizou o eunuco etíope (Atos 8:26–40) e foi conduzido pelo Espírito em sua missão. Timóteo também foi instruído por Paulo a "fazer a obra de um evangelista" (2 Timóteo 4:5), mostrando que esse ministério podia estar integrado a outros chamados.

Ao longo da história, evangelistas têm sido instrumentos de avivamento e expansão do Reino. Seu papel mantém a Igreja viva, ativa e fiel ao desejo de Deus: que todos sejam salvos (1 Timóteo 2:4).

O dom de pastor é essencial para o cuidado, ensino e amadurecimento espiritual da Igreja (Efésios 4:11). A palavra grega poimēn significa “aquele que cuida de ovelhas”, refletindo o ministério de amor, proteção e orientação espiritual inspirado no exemplo de Jesus, o Bom Pastor (João 10:11).

O pastor alimenta o rebanho com a Palavra, protege contra falsos ensinos e acompanha as necessidades espirituais e emocionais dos crentes. Pedro orienta os líderes a apascentar o rebanho com disposição voluntária e zelo (1 Pedro 5:2), e Hebreus 13:17 lembra que eles prestarão contas diante de Deus pelas almas sob seus cuidados.

Esse ministério é profundamente relacional, presente no cotidiano da Igreja local, promovendo unidade, comunhão e crescimento. Embora todos possam exercer cuidado fraternal, o dom de pastor é um chamado específico e reconhecido pela Igreja.

No Novo Testamento, Pedro (João 21:15–17), Timóteo e Tito são exemplos de liderança pastoral, e os presbíteros de Éfeso foram exortados a “pastorear a igreja de Deus” (Atos 20:28). Esses líderes, também chamados presbíteros ou bispos, sustentavam a fé e a vida comunitária das igrejas.

Assim, o pastor é um reflexo do coração de Cristo, servindo com humildade, amor e fidelidade para formar discípulos e guiar a Igreja à maturidade plena em Jesus.

O dom de mestre é essencial para o ensino doutrinário, o crescimento espiritual e a firmeza da fé da Igreja (Efésios 4:11). A palavra grega didáskalos significa “instrutor”, e o mestre é chamado a ensinar com profundidade, clareza e fidelidade à Palavra de Deus.

Diferente do dom geral de ensino, o ministério de mestre é uma vocação contínua, com autoridade e responsabilidade. Seu papel é formar discípulos maduros, fundamentados na sã doutrina e preparados para discernir o erro (Efésios 4:14). Paulo orienta Timóteo a ser “obreiro aprovado, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15) e a treinar outros mestres (2 Timóteo 2:2).

Exemplos no Novo Testamento incluem:

O mestre não transmite apenas conhecimento, mas promove transformação, enraizando a Igreja na verdade de Cristo. Seu ministério protege contra heresias, promove unidade e equipa o Corpo para cumprir sua missão. Onde o ensino bíblico é honrado, há crescimento sólido e fé madura.

Em conclusão, a revelação dos cinco ministérios — apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres — é a expressão do próprio Cristo repartido à sua Igreja para edificação, unidade e maturidade espiritual (Efésios 4:11–13). No entanto, essa edificação só acontece quando compreendemos que o Corpo de Cristo não faz acepção de pessoas. Desde o princípio, a missão de Jesus foi reconciliar todos os povos, línguas, culturas e gêneros em um só povo redimido. Como afirma Paulo: “Nisto não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).